Representante dos trabalhadores no Conselho Nacional de
Previdência Complementar (CNPC), Cláudia Ricaldoni diz que a decisão do órgão
de exigir processo seletivo para escolha da diretoria-executiva dos fundos de
pensão é ilegal e será contestada pela Anapar, associação que representa os
participantes. Para ela, a medida põe em risco os interesses dos trabalhadores.
“Vamos consultar os nossos advogados e chamar uma grande plenária para discutir
o assunto no início de fevereiro. Depois, vamos fazer pressão sobre o Congresso
e o Judiciário”, disse ao Valor. “Temos certeza de que essa medida é ilegal. É
subversão ao ordenamento jurídico mudar a lei por meio de resolução”,
completou.
Aprovada na sexta-feira passada em reunião extraordinária, a
resolução do CNPC coloca que a escolha dos membros da diretoria-executiva será
realizada mediante processo seletivo, “exigindo qualificação técnica, com a
devida divulgação e transparência, sob orientação e supervisão do Conselho
Deliberativo”. Na prática, diz a Anapar, a mudança acaba com as eleições dos
diretores e inviabiliza a presença de um representante dos trabalhadores na
diretoria-executiva. “Não vamos aceitar de forma alguma que a gente perca a
possibilidade de eleger os nossos representantes. Se o governo e as empresas
quiserem escolher alguém do mercado, fiquem à vontade”, disse Claudia.
Responsável pela regulação das entidades fechadas de
previdência complementar (EFPCs), o CNPC é presidido pelo ministro da Economia,
Paulo Guedes, e composto por mais sete integrantes — da Superintendência
Nacional de Previdência Complementar (Previc); da Casa Civil; das secretarias
especiais de Fazenda e de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do
Ministério da Economia; dos fundos de pensão; dos patrocinadores e
instituidores; e dos participantes e assistidos.
Em nota, o Ministério da Economia afirma que a escolha da
diretoria continuará sendo feita “conforme definido em estatuto, reforçando
apenas a importância de se ter um processo que assegure a qualificação técnica
de todos os membros da diretoria, independentemente de serem indicados pelos
participantes ou patrocinadores”. Enfatiza também que a resolução não altera a
escolha dos representantes do Conselho Deliberativo e do Conselho Fiscal dos
fundos de pensão, onde há previsão legal de paridade entre os representantes.
De acordo com Cláudia, o tema da contratação dos dirigentes
em mercado já vinha sendo aventado pela Previc e pelo Ministério da Economia e,
em reunião realizada no dia 4 de dezembro, foi feito um acordo para que o
conselho tentasse chegar a um consenso sobre as regras de governança até o dia
20. “Mas tivemos a informação de que a área econômica estava irredutível.
Diante disso, decidimos que não íamos à reunião extraordinária para não
legitimar a decisão.”
A instituição de processo seletivo também está em discussão
no Congresso. Um projeto de autoria do senador Valdir Raupp (PMDB/RO) trazia
essa previsão. Sem acordo sobre o tema, no entanto, um substitutivo do então
deputado e hoje senador Jorginho Mello (PL-SC) manteve a eleição. O projeto
ainda está em discussão na Câmara.
“Como a discussão não saiu do Parlamento, o caminho mais
curto que o governo encontrou foi tomar essa decisão via resolução do CNPC, mas
isso é ilegal”, coloca Claudia. “Precisamos discutir governança, mas não assim,
sem debate.”
Fonte: Valor Econômico.
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